Conforme o geógrafo Orlando Ribeiro,que esteve nesta terra incumbido de preparar um relatório ao governo Centrale que ele submeteu em Lisboa sob a epígrafe “Goa em 1956“, ele tinha achado que Goa era 'a terra menos portuguesa de todas as que vira até então‘.
A sua pesquisa revelara que poucos tinham o conhecimento da língua portuguesa e eis uma das razões que o levaram a tirar essa conclusão. Fez outros estudos noutras colónias portuguesas do mesmo jaez; como tal devia saber o que dizia. Sem querer contradizer a conclusão do eng Ribeiro, não estarei longe da verdade se disser que há muito vocabulário da língua portuguesa enraigado nas expressões ordinariamente faladas pelo povo em concanim, a língua de Goa. Até o Ministro Chefe de Goa ao falar à imprensa há uns meses, com referência à corona vírus, disse o seguinte: "hem doens Goyant bhitor sorlam tem..."(essa doença que entrou em Goa...) e há muitas outras tais como "xarop", "paciens","cazar", "sushegad", "nab" etc empregadas corriqueiramente no uso diário e ainda outras que são comuns nas línguas indostânicas tais como "mez" em hindi, "janel" em tamil, que cito meramente como exemplos comprovativos dessa influência. Mas há uma onda "purificadora" nos meios leigos e eclesiásticos que quer a todo custo acabar com isso e "libertar" o concanim dessas influências da língua lusa, com a introdução de palavras importadas do hindi ou do sanscrito que tem resultado em torná-la ininteligível, até a quem a fala em casa, quotidianamente, e isso é mais notável entre os católicos...mas estou a digressionar!
É possível que a opinião do eng Ribeiro sofresse uma alteração se ele tivesses ido acompanhado de um Goês bem versado na língua concanim que tivesse chamado a sua atençãoa esse pormenor.
Seja como for, não haja dúvida que a língua portuguesa exerceu um papel preponderante especialmente entre os católicos, mas não só entre estes, em influenciar a maneira de ser, exprimir (especialmente na esfera culinária como na religiosa) e agir do goês. Existiu em Goa, e acho que ainda existe, um núcleo de famílias que falam português em casa. Mas é também certo que na esteira dos acontecimentos de 19 de Dezembro de 1961, muitas famílias pararam de falar nesse idioma com os seus filhos sob a impressão falsa que falar em inglês ajudá-los-ia mais nas escolas onde o ensino basilar tinha mudado para essa língua, particularmente nas escolas católicas. Em consequência disso o português, no decorrer dos anos, foi decrescentemente empregado em público.
Ultimamente, porém, pode-se constatar um novo interesse nessa língua da parte da mocidade. Esse interesse revela-se na participação desta noprograma "vem cantar" patrocinado pela
Fundação Oriente, como também nos vários cursos básicos e avançados de língua portuguesa.
É curioso que no curso superior de português oferecido pela Universidade de Goa, há estudantes vindos de várias partes de Índia que o frequentam.Todavia, nas escolas secundárias, ainda se verifica maior concorrência para o curso da língua francesa. Talvez isso seja consequência de falta de professores de português, mas acho que há outras razões que vão mais ao fundo da questão: em primeiro lugar, muitos Goeses ignoram a sua importância e relevância tanto local como internacional e os benefícios que se podem auferir conhecendo-a e, no segundo lugar, um ódio acérrimo de alguns por tudo que tem a ver com Portugal, que os faz rejeitar até a língua!
Há muitos empregos à espera dos que completam o curso de português, tais como: de professores, de tradutores de documentos emitidos pelos nossos arquivos (que contêm material dos últimos quatro séculos e meio), requeridos constantemente pela população tais como as certidões de nascimento, óbitos, descrições e inscrições e demais documentos das várias Conservatórias de Registos Prediais, testamentos e doações executados perante os Notários Públicos, inventários e extratos das causas cíveis, sem esquecer os documentos ligados às pesquisas históricas. Não se pode ignorar também as oportunidades de se empregar como intérpretes e guias no campo de turismo, como também nos "call centers" que estão associados em "tie-ups" com companhias brasileiras e com outras dos países lusófonos, dos quais existem cinco em África, um na Ásia e outro, o maior, na América latina. Os consulados e embaixadas desses países na Índia são também outras avenidas de emprego. Além disso, os que conheçam o português tem a chave para abrir as portas do serviço diplomático tirando o curso do IFS (IndianForeign Service), pois teriam grande vantagem competitiva.
O goês com a sua afinidade para aprender línguas e com a possibilidade de poder conversar ainda em português nos meios sociais em Goa, seria duplamente avantajado. Tem tudo a ganhar e nada a perder. As instituições académicas têm um papel proeminente em encorajar e motivar os estudantes em optar pelo português como segunda língua nasescolas,o que só lhes pode trazer grandes benefícios.